Fotografia, o motor das redes sociais
Em 2006, o Google, já um gigante da internet, desembolsou 1,65 bilhão de dólares para adquirir um serviço nascente e promissor, o YouTube, site de compartilhamento de vídeos.
Por Rafael Sbarai e Renata Honorato, de Veja.com
Em 2006, o Google, já um gigante da internet, desembolsou 1,65 bilhão de dólares para adquirir um serviço nascente e promissor, o YouTube, site de compartilhamento de vídeos. O negócio parecia prenunciar a era do vídeo, animada pelas câmeras caseiras digitais. A impressão geral era que o formato esmagaria outros registros, como a fotografia. Eis que, passados seis anos, outro gigante, o Facebook, voltou a provocar frisson ao anunciar a aquisição do Instagram, aplicativo para smartphones e tablets cuja matéria-prima são as fotos, não o vídeo.
É fácil entender por que Mark Zuckerberg, criador e CEO do Facebook, está disposto a desembolsar a montanha de dinheiro. Hoje, 70% de todas as interações feitas pelos mais de 800 milhões de usuários da rede são relativas a fotos. Ou seja, a fotografia ainda fisga nosso olhar. Simultaneamente, dentro da web - e também fora dela -, a fotografia não para de se multiplicar. Estima-se que, a cada dois minutos, tiram-se pelo mundo mais fotos do que todo o século XIX produziu.
A história da ascensão da fotografia no mundo digital começou a ser escrita em 1997, quando foi lançado o primeiro modelo comercial de câmera digital: a Sony Mavica. O resultado foi percebido quase instantaneamente. Na década de 1990, o número de fotos produzidas cresceu 50%, chegando, em 2000, a 86 bilhões de cliques ao ano, segundo cálculos de Jonathan Good, consultor de redes sociais, a partir de dados da Kodak e da Enciclopédia Digital de Negócios. Passada uma década, esse número chegaria a 360 bilhões de fotografias anuais, alta de 340%. Além da câmera digital, há mais três elementos a alimentar essa evolução: os celulares, que incorporaram as câmeras, as redes 3G, que permitem a transmissão de dados (e de fotos) em alta velocidade, e, por fim, as redes sociais, que facilitam sua distribuição. Segundo pesquisa da empresa da análise de mercado NPD Group, em 2011, 27% de todas as fotos produzidas pelos americanos foram feitas a partir de smartphones - um avanço de 60% em relação ao ano anterior. A tendência é que o processo se acentue com o avanço da rede 3G, usada por 1,2 bilhão de pessoas e que, em 2016, deve se estender a 10 bilhões de aparelhos, segundo a União Internacional de Telecomunicações. Isso vai municiar um exército de fotógrafos.
"Muitas vezes, é mais fácil fazer o upload de uma foto em alguma rede da internet do que sentar e escrever um texto", diz o americano Rudy Adler, cofundador do 1000Memories, serviço virtual que se dedica à preservação de fotos antigas, tentando explicar a ascensão da foto no mundo digital. Ele aposta que, embora os vídeos sigam em alta, as fotos podem ser até mais populares do que as imagems em movimento em algumas situações. "No Facebook, por exemplo, as fotografias são mais compartilhadas a partir do botão Curtir do que os vídeos", diz Adler. Trata-se de uma questão de tempo, um bem precioso nos dias de hoje. Quem observa uma foto pode decidir quanto quer se dedicar a ela: pode ser meio segundo, pode ser uma hora. Quem assiste a um vídeo, ainda que o faça parcialmente, tem de obedecer minimamente a um prazo imposto por seu autor. "O vídeo demanda mais tempo de quem o faz e de quem o aprecia."
Nas redes, é mesmo o Facebook quem encabeça o movimento. A cada dia, em média, usuários confiam 250 milhões de fotos ao serviço. A torrente faz com que o repositório de imagens da rede tenha crescido 14 vezes em um período de apenas três anos (2008 a 2011), atingindo incríveis 140 bilhões de fotos no fim do ano passado. O sucesso é tamanho que, atualmente, o acervo é 23 vezes maior do que o do Flickr, site criado especificamente para abrigar fotos de usuários. A diferença é que o Facebook criou mecanismos para que seus afiliados não apenas armazenem, mas também compartilhem suas criações e, assim, passem mais tempo ali.